"Toda a gente me pergunta se estou farta, que devo estar ansiosa por conhecê-la, a médica assegura que isto dificilmente passa dos primeiros dias de Janeiro. E eu só penso que não, que não, que a miúda fique onde está, porque eu preciso, desesperadamente, de acabar a tese. Tenho muita pena de estar a viver esta fase assim, a tese na cabeça, a tese, a tese, devia tirar mais tempo para me enternecer com as roupas pequeninas e cheirosas, com esta criança dentro de mim, com esta barriga redonda que parece a lua. Devia tirar fotografias. Devia sonhar com ela, falar com ela, pensar mais nela, e o raio da tese não deixa."
"Leio os silêncios de quem olha para mim. E sei que eles pensam, muitos deles pensam, que isto é uma tolice e um atraso de vida. E sei que eles pensam, muitos deles pensam, que razão tinha o doutor não-sei-quantos, que dizia que as mulheres, para abraçarem esta vida, não deviam poder casar (ter filhos muito menos, mas suponho que não lhes ocorra que são duas escolhas diferentes, e uma não pressupõe a outra). E sei que se pudessem, muitos deles, se pudessem, proibiam os filhos antes das teses. Ou mandariam para casa as mulheres mães, esses seres de neurónios queimados e horários condicionados. Esses seres para quem as prioridades, o mais importante, o melhor da vida, está fora dali."
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